domingo, 22 de dezembro de 2013

2013

Pensamento recorrente no ano de 2013: para muita gente, o melhor que aconteceria seria se aparecesse uma nova banda chamada Jesus and Mary Chain que fizesse música como os verdadeiros Mary Chain. Ninguém se importaria. Qual máquina orwelliana, o passado seria rescrito em prol do comforto presente. O nosso maior luxo é o nosso bem estar. 
 
Bons discos. Alguns. Daniel Lopatin aka Oneohtrix Point Never em "R Plus Seven" a chamar os fantasmas digitais ao presente. Detritos. Uma vida após a morte para o detrito digital.
Julia Holter, a senhora de gestos suaves e elegantes em "Loud City Song". "Chance of Rain" de Laurel Halo, techno disfuncional, orgânico. Duas senhoras que desafiam.
Mais. Yo La Tengo, como ser Yo La Tengo, soar a Yo La Tengo e dar um passo em frente; ou o que me ajuda a manter a esperança na música indie/alternativa.
Lussuria "American Babylon", o pós-industrial nos tempos da internet. Dean Blunt em dose tripla "Narcisist II/The Redeemer/Stone Island", o trovador pós-moderno, o hiper-crooner.



Katie Gately "Katey Gately" mini lp lançado pela Public Information.  Last Day é o gémeo de "Numb" de Andy Stott" lançado o ano passado. Burial a mexer-se num terreno perigosamente perto de M83 e 30 Seconds to Mars e a fazer um dos discos mais belos de 2013. Toca. Os Boards of Canada, apesar de tudo, de toda a expectativa, acabaram por lançar um belo disco em "Tomorrow's Harvest". Reach for the Dead não deixa ninguém envergonhado. Tim Hecker "Virgins". Desde "LP" de D'Eon nunca um disco me tinha tocado tanto como este.

 
Desilusões também as houve. My Bloody Valentine, o melhor disco dos Smashing Pumpkins desde "Siamese Dream". Sebadoh a soarem como os Stone Temple Pilots (mas I Will é Sebadoh no seu melhor).
 
Ao vivo, tive pena (ou será vergonha alheia?) dos Animal Collective. Um vazio. No oposto, os My Bloody Valentine fizeram-me sentir maiores que a vida.
Houve também Dean Blunt com guarda-costas; Julia Holter num dia bastante feliz para mim. Rob Mazurek, maestro-arquitecto underground, trouxe Pharoah Sanders a Lisboa, para mais uma noite de brisa amena no anfiteatro da Gulbenkian.
Reedições: Iasos, a inocência new-age; Felicia Atkinson e os seus fantasmas em verde-garrafa; "Imperial Distortion" de Kevin Drum ou como assistir ao fim do mundo debaixo de água. 
A corajosa compilação "I am the Center" da Light in the Attic ou como ser anti-punk e anti-rock (essa máfia bafienta...)

Nascem bandas todos os dias, parece-me. Impossíveis de acompanhar, os lançamentos sucedem-se em velocidade estonteante.
Isso é bom dizem uns. Isso é mau, digo eu. A mortes acabam ser em número proporcional. Como as it-girls dos novos media e do sempre-presente e poroso mundo global.

O grande desafio no próximo ano (e talvez nos anos seguintes) será o de aprender a ouvir música no mundo hiper-activo. Como os movimentos de slow-food em reacção à fast-food,  será que irá aparecer o slow-listening?


Disse ao inicio que o maior luxo dos nossos dias presentes é o bem estar. O próximo será o tempo.



sexta-feira, 12 de julho de 2013

Função.














Interessante a entrevista/artigo com Adam Curtis na FACT magazine, em particular esta referência que faz à banda Savages, que acaba por servir de explicação para outros tantos fenómenos musicais que pululam aos magotes em posts de Facebook durante pelo menos uma semana.


“I know everyone loves Savages but if you listen to Savages, they are archeologists! They are like those people in pith helmets who used to dig up the bones of Tutankhamun.

“Savages have gone back to the early 1980s and unearthed a concert of Siouxsie Sioux or The Slits and literally replicated it note for note, tone for tone, emotion for emotion. It’s like some strange curatorial adventure. They’re not new. It’s good to go back into the past and take something and reinterpret it and use it to push into the future but they’re not doing that – they’re like robots.”


Percebo. Vi as (os?) Savages recentemente ao vivo e a Adam Curtis só faltou referir o vestuário. O que faz pensar na música não como "objecto-criativo" mas como "objecto-função".
Re-post, re-twitt, re-wind.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A passagem do tempo














A vida passa sem sobressaltos. A vida moderna entenda-se, no eterno conforto, o nós e os outros como entidades distintas. O acordar um dia e perceber que o tempo passou e nós também passámos por ele.
Dark Side of the Moon é também um disco que passa. Se quebras, sem um auge. 42:59. Vem e depois vai sem se dar por isso. Tudo corre a um ritmo de cruzeiro, como se se tivesse todo o tempo do mundo; vida feita de pequenas rotinas, pequenos nadas que passam despercebidos.
Não há um hit, não há um refrão mas há um ritmo constante, uma cadência; nada chama a atenção, nada cativa. Ao fim tudo se aproxima do fim.
É o tempo que passa sem podermos fazer nada em relação a isso.
O que torna então Dark Side of the Moon tão especial? Talvez isso mesmo, ser um dos poucos discos da música pop que mais se aproxima da vida.
40 anos.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

pop is dead.













Apesar de não ter ouvido o último disco do Bowie, toda a campanha de marketing, todo o hype, toda a sugestão, levam a uma conclusão: a música pop, como a conhecemos, morreu. Retirando apenas conclusões baseadas apenas na estética e nas relações de mercado em que assenta.
Não é uma conclusão a que se chegue de ânimo leve.
Insiste-se então em prolongar o velório e não ter a coragem de levar o morto ao cemitério.
Mas é bom que se o faça depressa, senão acaberemos por ficar apenas com bandas-tributo como os Vandelles e a redopiar em constante hedonismo.

A rever. Ou talvez não.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Everything, everywhere, all the time now!

























Tudo agora, aqui, em todo o lado.
Assistimos ao nascimento de um novo Homem: o homem-iphone.
Tudo e não-especializado;
Excesso informativo; assimilação; os novos valores da sociedade.
A idade do hedonismo, da realização pessoal e do sempre (tudo) presente e ao alcance.
Este proto-cyborg(?), nós, dependentes do anexo tecnológico.
iPod, movimento touch digital;
Samsung, movimento e acção aérea.

A rever.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Shake, rattle and kraut


Kraut. Kraut. Kraut. Esta é a palavra que frequentemente popula as criticas músicais nos dias que correm. De Toy a Savages, de Beaches a não sei mais quem. Hoje, qualquer ritmo mas “motórico” é, portanto, kraut; assim como qualquer estética mais etérea é psicadélica; assim como qualquer dissonância-distorção é noise.



Mas o que é afinal isso do kraut, figura da história da música popular quando a Alemanha dava 5-0 ao Resto do Mundo? Ritmo, velocidade? A velocidade alemã da Autobhan, quando a Europa parecia, aos olhos dos seus, um continente sem fim, ligada por uma só estrada. Pós-guerra, abundância; estrada, máquina, comforto. O ritmo das máquinas, motores, futurista na sua essência; Klaus Dinger, ritmo motorik; (Q)(K)Cluster, Harmonia, Kraftwerk.



A velociade americana, que tem dominado o mundo nos últimos 60 e poucos anos, não é tão precisa; é centrifuga, rodopiante. Shake, rattle, roll and twist; Chuck Berry, Jerry Lee Lewis. Hedonista em essência, é o corpo, expressão, sexo.



A imensidão de dois continentes a duas velocidades distintas; duas visões do pós-guerra.



A rever. 

 

 


we are still everything now!

Jar Moff 'Commercial Mouth' (PAN 31) from PAN on Vimeo.